Alguns traços devem ser encontrados em um obreiro para que ele seja aprovado. A ausência de qualquer um destes traços poderá implicar em sua desqualificação. O obreiro, portanto, deve buscar ser “vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra” (2 Tm.2:21). Em outras palavras, ele deve buscar se qualificar, santificando-se para estar preparado para ser usado na obra de Deus.
E quais são os traços que devem ser manifestos na vida de um obreiro aprovado? Vamos encontrá-los na lista apresentada por Paulo, que juntos formam o fruto do Espírito. Esse fruto é dividido em gomos, que devem ser encontrados não apenas na vida dos obreiros, mas de todos os membros do Corpo de Cristo. São eles: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl.5:22-23).
2.1. Amor – Um obreiro que não ama, tende a fazer a obra de Deus de maneira mecânica e artificial. Não somos apenas engrenagens de uma máquina. Somos seres humanos, que necessitam encontrar sentido naquilo que fazem. É o amor que vai dar sentido e valor à nossa obra. “Fazei todas as vossas obras com amor” ordenou o apóstolo (1 Co.16:14). Seja o que for que tivermos que fazer, se não for com amor, é melhor que não faça. Afinal de contas, é para Deus que trabalhamos. Como disse Paulo: “E tudo o que fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que servis” (Col.3:23-24). Além disso, devemos considerar que embora trabalhemos para Deus, estamos lidando com seres semelhantes a nós, com suas contradições, anseios, fraquezas e virtudes. Por isso, as Escrituras nos ordenam a suportar “uns aos outros em amor” (Ef.4:2b). É mais fácil lidar com coisas inanimadas, do que lidar com gente. As pessoas têm seus dilemas, suas manias, seus sonhos, e precisam ser amadas e compreendidas. Devemos ter “antes de tudo, ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobre uma multidão de pecados” (1 Pe.4:8). Em outras palavras, o amor nos faz enxergar as pessoas, cobrindo-lhes a sua nudez espiritual, e não as expondo, como fez Cão, filho de Noé.
2.2. Alegria – “Servi ao Senhor com alegria” (Sl.100:2a). Servi-lo com alegria, é o mesmo que servi-lo de boa vontade, e não apenas por uma obrigação religiosa. Ainda que, de fato, seja uma obrigação nossa. Observe o que diz Paulo: “Contudo, quando anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação. Ai de mim, se não anunciar o evangelho! Se o faço de boa vontade, terei recompensa; mas se de má vontade, apenas desempenho um cargo que me foi confiado” (1 Co.9:16-17). Portanto, servir na obra de Deus deve ser encarado não apenas como um dever, mas, sobretudo como um prazer! Não devemos alegrar-nos apenas pelos resultados de nosso trabalho, mas principalmente por termos sido alvo de Sua escolha soberana. Expulsar demônios é gratificante, curar os enfermos é maravilhoso, mas nada deveria nos alegrar mais do que saber que nosso nome está escrito no céu (Lc.10:20). Além do mais, o obreiro alegre acaba por contagiar as pessoas com a sua alegria. Um obreiro carrancudo vai apenas espantar as pessoas, e vaciná-las contra o Evangelho. Devemos, portanto, ser alegres, para poder transmitir alegria aos que nos cercam. Jamais devemos deixar que os problemas particulares venham prejudicar nosso desempenho na obra de Deus. Um obreiro que almeje a aprovação de Deus, deve ser capaz de passar por cima dos seus próprios problemas, buscando sempre exibir em seus lábios um sorriso sereno, que passe tranqüilidade, entusiasmo e satisfação em servir.
2.3. Paz – Quem trabalha pra Deus é, por definição, um pacificador. Estamos engajados na promoção da paz. Nosso objetivo é levar os homens a se reconciliarem com Deus, e a viverem em paz consigo mesmo, e com os seus semelhantes. Para promovermos a paz, precisamos estar em paz. Mesmo sendo perseguidos, não podemos perder a paz, a serenidade, a tranqüilidade. Para nós, a paz é um estado de espírito, e independe das circunstâncias. Entretanto, a paz que excede todo entendimento, e que guarda nosso coração (Fp.4:7), deve influenciar nossos relacionamentos. Isto quer dizer que, devemos, a todo custo, evitar qualquer situação que busque privar-nos da paz com o nosso próximo. Paulo diz: “Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Rm.12:18). Infelizmente, nem sempre isso é possível. Mas no que depender de nós, busquemos a paz, evitando entrar em contendas, rixas e debates. Uma pessoa com o ânimo alterado, jamais vai se dispor a reavaliar seus conceitos. Portanto, não vale a pena discutir, pra tentar convencer ninguém. A Palavra de Deus nos ordena: “E rejeita as questões insensatas e absurdas, sabendo que produzem contendas. E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim ser brando para com todos, apto para ensinar, paciente; corrigindo com mansidão os que resistem, na expectativa de que Deus lhes conceda o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade” (2 Tm.2:23-25). Devemos policiar até o tom de nossa voz. Há pessoas que se dirigem a outras, como se estivessem discutindo, embora, na verdade, não estejam. Há outras que têm facilidade de “dar fora”, até sem querer. Parece que elas estão sempre de espírito armado, e acabam dando a impressão de que têm pavio curto. “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Pv.15:1). Mesma a mais dura das verdades, deve ser transmitida com o tempero do amor, para que não possa ferir, mas edificar.
2.4. Longanimidade – Ser longânimo é o mesmo que ser paciente ou tolerante com a fraqueza alheia. Um obreiro deve manifestar tal característica, pois a mesma é um dos notáveis traços do caráter divino (Sl.103:8). Assim como Deus é longânimo para conosco, devemos ser pacientes para com aqueles que estão chegando à igreja, ou mesmo para com aqueles que, embora tenham algum tempo de igreja, ainda não aprenderam a caminhar por si mesmos. O apóstolo Paulo deixou-nos uma importante orientação sobre isso: “Acolhei ao que é fraco na fé, não, porém, para discutir opiniões (...) Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos (...) Ora, o Deus da paciência e da consolação vos conceda o mesmo sentir de uns para com os outros, segundo Cristo Jesus (...) Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus” (Rm.14:1; 15:1,5,7). Ao nos deparar com alguém que esteja dando seus primeiros passos na fé, devemos nos lembrar dos nossos primeiros passos, e de quanto trabalho demos para os que nos receberam. Assim como alcançamos o amadurecimento, eles também hão de alcançar. Lembremo-nos de que “melhor é o fim das coisas do que o seu princípio; melhor é o paciente do que o arrogante” (Ec.7:8). Afinal, quem começou a boa obra, é fiel pra terminá-la dentro do prazo estabelecido (Fp.1:6). Devemos ter redobrado cuidado para não destratarmos ninguém, dando respostas deselegantes. Ser longânimo também é ser atencioso, gentil e cordato.
2.5. Benignidade – Ser benigno é estar sempre disposto para fazer o bem. Este fruto se manifesta na vida do obreiro quando este tem a oportunidade de beneficiar alguém, seja através de uma oração, de um conselho, ou até mesmo de um simples gesto, como um abraço ou um sorriso. A exemplo de Jesus, devemos fazer o bem a todos, independente de seu credo religioso, ou de sua posição social ou cultural (At.10:38). Não podemos ser omissos. Tiago diz: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tg.4:17). Um obreiro aprovado não joga fora uma boa oportunidade de enaltecer o nome de Jesus através de um ato benigno. Ainda que não sejamos reconhecidos pelas coisas boas que façamos, devemos esperar a recompensa de Deus, e não dos homens. Paulo admoesta: “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido. Então, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl.6:9-10). Devemos nos dispor a beneficiar até os que nos maltratam. É desta maneira que vencemos o mal com o bem (Rm.12:21).
2.6. Bondade – Enquanto a benignidade é uma questão de atitude, a bondade está ligada à maneira como enxergamos as coisas à nossa volta. Assim como há pessoas maliciosas, que só conseguem enxergar o mal, até onde não há, há outras que têm o dom de enxergar coisas boas, até nas aparentemente ruins. Sobre isso, Jesus falou: “A lâmpada do corpo são os olhos. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz. Se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas” (Mt.6:22-23a). Um obreiro aprovado deve ter os olhos iluminados pela bondade do Espírito Santo. Ele consegue identificar o agir de Deus em cada situação. Ele é capaz de enxergar as qualidades e potencialidades das pessoas que chegam à igreja, a despeito da situação que estejam passando. Ele deve ter um olhar puro, que expresse a bondade de uma criança. Foi isso que Paulo quis dizer ao ordenar: “Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento” (1Co.14:20).
2.7. Fidelidade – Podemos definir a fidelidade exigida por Deus na vida do obreiro de diversas maneiras. Ser fiel é:
a) Reproduzir exatamente o que recebeu, sem acrescentar nem subtrair nada – “E o que de mim, através de muitas testemunhas ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2 Tm.2:2). “Assim, pois, que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, requer-se dos despenseiros que cada um se ache fiel” (1 Co.4:1-2). “Pois eu recebi do Senhor o que também vos ensinei” (1 Co.11:23a). “Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso” (Pv.30:6).
b) Servir de padrão para os demais – “Ninguém despreze a tua mocidade, mas sê exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza” (1 Tm.4:12). c) Zelar por aquilo que lhe foi confiado – “Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito, e quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. Se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?” (Lc.16:10-12).
d) Saber guardar segredo – “O mexeriqueiro revela o segredo, mas o fiel de espírito o mantém em oculto” (Pv.11:13).
e) Entregar a Deus o seu dízimo – “Tudo vem de ti, e somente devolvemos o que veio das tuas mãos” (1 Cr.29:14b). “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa (...) E então vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio, entre o que serve a Deus e o que não serve” (Ml.3:10a, 18).
f) Cumprir seus votos e compromissos – “Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo. Ele não se agrada de tolos; o que votares, paga-o” (Ec.5:4). “Agora, porém, completai o já começado, para que, assim como houve a prontidão de vontade, haja também o cumprimento, segundo o que tendes (...) Cada um contribua segundo o propósito do seu coração” (2 Co.8:12; 9:7a).
g) Ser coerente, isto é, praticar aquilo em que crê – “E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg.1:22). “O que aprendestes, e recebestes, e ouvistes de mim, e em mim vistes, isso fazer. E o Deus de paz será convosco” (Fp.4:9).
2.8. Mansidão – Foi Jesus quem disse: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrarei descanso para as vossas almas” (Mt.11:29b). Ser manso é manifestar tranqüilidade em qualquer situação, sem demonstrar altivez, arrogância. O manso não está preocupado em receber honra, elogios, nem faz questão de qualquer privilégio. Quando repreendido, o manso não reage, mas reconhece seu erro, e busca consertar-se. Ele sabe que “nenhuma correção parece no momento ser motivo de gozo, mas de tristeza. Contudo, depois produz um fruto pacífico de justiça nos que por ela têm sido exercitados” (Hb.12:11). Qualquer repreensão que vise o nosso bem, e principalmente o bem da obra de Deus, é bem-vinda. Devemos concordar com o salmista, quando diz: “Fira-me o justo, será isso bondade; repreenda-me, será um excelente óleo sobre a minha cabeça. A minha cabeça não o rejeitará” (Sl.141:5a). “Melhor é ouvir a repreensão do sábio do que ouvir a canção do tolo” (Ec.7:5). “O que ama a disciplina ama o conhecimento, mas o que odeia a repreensão é estúpido” (Pv.12:1). O obreiro aprovado jamais abre a sua boca em defesa própria. Ainda que seja injustiçado, ele prefere ceder a palavra ao seu Advogado, Jesus. Aprender de Jesus é ser manso e humilde, e agir como Ele agiu diante dos seus acusadores: “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a sua boca” (Is.53:7a). Em outras palavras, se o obreiro está errado, ele curva a cabeça e reconhece o erro. Se ele estiver certo, ainda assim, ele mantém seu silêncio, e deixa que Cristo seja seu defensor. Ser manso também é colocar o interesse da obra de Deus, acima dos nossos próprios interesses. É ter o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, nada fazendo por contenda ou por vanglória, mas por humildade, considerando os outros superiores a si mesmo, e não atentando somente para o que é seu, mas principalmente o que é para o bem comum (Fp.2:3-5).
2.9. Domínio Próprio – Eis o último gomo do fruto do Espírito. Ter domínio próprio é ter auto-controle. Sem ele, podemos pôr tudo a perder. Por isso, João admoesta: “Olhai por vós mesmos, para que não percais o que ganhastes, antes recebais plena recompensa” (2 Jo.8). Olhar por nós mesmos é o mesmo que manter-nos em total vigilância. O sábio Salomão afirma que melhor é “o que governa o seu espírito do que o que toma uma cidade” (Pv.16:32). E mais: “Como cidade derrubada, sem muro, assim é o homem que não pode conter o seu espírito” (Pv.25:28). O obreiro aprovado não pode se deixar levar pelas emoções carnais e passageiras. Somos guiados por convicções, não por emoções. Aquilo que vemos não pode nos afetar a ponto de nos levar a perder a compostura. Se for necessário nos calar, nos calaremos (Leia Tg.3:2). Se for necessário nos conter na hora da raiva, nos conteremos. Tudo para não prejudicarmos a obra de Deus com a qual estamos comprometidos. Ter domínio próprio é resistir aos apelos da carne, e optar pelo que é certo. É ser capaz de desagradar a si mesmo, para agradar aos outros e principalmente a Deus (Leia Rm.15:1-3).
quinta-feira, 1 de maio de 2008
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